Alternância] Os dias seguintes ou carta ao infinito

Querida Ana,

Não sei bem por que eu lhe escrevo esta carta se a única coisa certa, depois de ontem, é que você nunca vai ler estas palavras. Acontece que ainda espero a resposta da última mensagem que lhe mandei, pelo celular; era urgente, porque você estava indo embora e eu precisava alcançá-la antes do abismo:

Aqui é a Ana Mary, lembra-se? Sua (para sempre) paciente. Todas as noites, rezo por você, mas, especialmente, agora, lembrei-me de você. Estou almoçando com seus ensinamentos: “faça as melhores escolhas”, “coma devagar”, “este é o seu momento de pausa”… Levo você comigo! Desejo-lhe saúde e paz, força e fé, serenidade e amor.

Mas, agora, nada parece urgente: o trabalho, o almoço, a casa, a declaração de amor; levar as meninas ao colégio, pagar as contas, visitar o irmão do outro lado do oceano, encontrar os amigos, ter um neto, curar-se… Agora, parece que alguém, um senhor do tempo, desacelerou as horas. Será mesmo que Deus, o silêncio com quem você tanto falava e insistia, existe? A propósito, querida Ana, somente ter fé ainda é urgente, nos dias que se seguem.

Sei que não terei respostas. Escrevo-lhe por uma (sempre ingênua) esperança de que exista, na verdade dos mistérios, a tal linguagem do coração ou um encontro entre almas. Escrevo-lhe porque esperamos, juntas, o seu milagre, até o último minuto. Do lado de cá, cresci imaginando que o pensamento e a prece são meios de transcender distâncias, feitos uma ponte invisível entre aqui e além. De todo modo, escrevo-lhe esta carta porque escrever para alguém é dizer algo que eu preciso ouvir. E sigo buscando respostas. A história do outro me compõe – assim no jornalismo como na vida.

De você, eu achava, especialmente, bonita a parte que me contou sobre aprender a amar. “Um dia de cada vez” e, assim, foram mais de 40 anos de travessia ao lado do primeiro namorado. Ah, Ana, se você pudesse vê-lo ontem, sem rumo, só o reconheceria pelo olhar ainda procurando o seu.

Sinto o quanto lhe custou deixá-lo, e as meninas (que já cresceram), mas você cuidou de ir aos poucos, até que eles pudessem se despedir por inteiro. Quando eles puderam compreender que já não era mais você quem estava ali, que não havia mais a palavra que precisavam ouvir, ou a força que precisavam ter, ou abraço que precisavam receber, que já era apenas dor, então, você cuidou de ir na madrugada, serenamente como foi, enquanto eles dormiam. Acredito que você, agora, se tornou mesmo sonho, caminho, lugar, ensinamento. Deixar ficar, ir para permanecer: só o amar é capaz dessa despedida e dessa eternidade.

Deste lado do abismo, ainda somos aprendizes. A expectativa é que você volte a dar notícias sobre o que recomendou o dr. Alarico, sobre os últimos exames, sobre a esperança. Eu ainda preciso lhe dizer, Ana: os dias seguintes são de perdoar Deus. O milagre que tanto queríamos não aconteceu.

É bem verdade que houve outros milagres, eu garimpo enquanto escrevo: você visitou seu irmão do outro lado do oceano e teve um neto. Mas há um milagre que nos abarca: sentir a dor do outro, a alegria do outro; ser o outro. Querida Ana, ao me deixar ser também você, “na mesma fé, no mesmo amor e na mesma cruz”, como você deixou em sua última mensagem pelo celular, compreendi um pouco mais sobre todos e um pouco mais sobre mim.

Fique com a Paz que você sempre acreditou existir.

Abraços e saudades daqui,

P.S.: encontrei o plano alimentar que você elaborou para mim há dois anos. Amanhã eu recomeço, como você indicou, “com bom senso e equilíbrio”. Os dias seguintes também são de recomeços.

Casa de mãe, onde tudo se transforma. Um lugar, no mundo, onde eu me recomeço

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A receita que publico hoje é parte do plano alimentar que a nutricionista Ana Coeli Guimarães, destinatária da carta que escrevi, me recomendou, por e-mail, certa vez. É a escrita dela, do jeito que ela cuidava das pessoas. Uma receita muito simples e de “infinitas possibilidades”, para as manhãs – de cada dia ou da vida que segue.

Receita de crepioca

Fácil, rápida e saudável! Bom apetite!

É mais macia e apresenta um índice glicêmico mais baixo que a tapioca. Em outras palavras: engorda menos e sacia mais. Isso porque a receita, além da goma de tapioca (2 col de sopa), leva farinha de linhaça (2 col de sopa) ou de linchia (farinha de linhaça com chia), ovo (1 unidade), água (apenas o  necessário para deixar a massa lisa, mais para líquida do que para espessa) e um pouco de sal. É bom também pra variar o sabor.

Modo de fazer: em uma tigela, junte a farinha de linhaça (ou linchia), a goma de tapioca, o ovo, a água e o sal até ficar uma massa lisa (mais para líquida do que para espessa). Espalhe de quatro a cinco colheres de sopa em uma frigideira média antiaderente aquecida (não muito quente) e asse dos dois lados. Recheie a gosto. Rende de duas a três crepiocas.

Existem infinitas possibilidades!!! Fica ótimo com frango, carne bovina, atum, creme de ricota light, escarola, mussarela de búfala, peito de peru, queijo branco.. .. E você ainda pode usar sua criatividade e fazer crepioca doce, com massa e recheios doces, com morango, kiwi, banana, abacaxi, iogurte grego…”.

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